O guardião da manhã
Luci Afonso Acordo aborrecida com pequenos problemas. Ainda não fiz a declaração do Imposto de Renda, que sempre deixo para a última semana; minha secretária não está limpando a casa direito e começou a reclamar da ida diária ao supermercado; preciso retomar as sessões de acupuntura para a tendinite, mas não tenho ânimo; o trabalho está um saco; ainda não escrevi a crônica da semana. Tomo o café sem sentir o gosto e me arrumo com mau humor, antevendo a chatice de enfrentar o trânsito congestionado no Eixão e de procurar uma vaga no estacionamento entupido. Esqueço que justamente ali me aguarda um ser humano-humano, que tem o dom de transformar meu espírito. — Bom-dia, madame! - Saúda a voz de samurai. — Bom-dia, Sr. Pernambuco. - Respondo, já me sentindo um pouco mais leve. — A senhora tá boa? A família tá boa? - pergunta o sorriso de dentes escassos. — Tudo bem. E o senhor? — Tudo bem, graças a Deus. E, como um sacerdote que acabou de celebrar a missa matinal, profere a bênção que sem