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Luci Afonso Após quatro anos, três meses e dezoito dias, resolvo começar a fisioterapia indicada pela neurologista. Antes, porém, tenho de fazer uma avaliação. Minha mãe avisa: — Vou também, para você não desistir. — Não precisa. — Precisa, sim. Com cinquenta e dois anos nas costas, sou conduzida por uma velhinha de setenta e quatro, com 20% de visão no olho esquerdo, zero de audição em ambos os ouvidos, 80% de entupimento na coronária, hipertensão e diabetes. — Veio trazer a nenê? — brinca a recepcionista. — Vim. A terapeuta é gentil e atenciosa, mas tenho dificuldade em abordar o problema. Minha mãe ainda não acredita no diagnóstico. — Não tem lógica — ela argumenta. — Por que não, mãe? — Porque Deus é justo. Não ia te mandar essa merda. Justo ou não, descobri que tenho uma doença incurável, mas não fatal, e que exige diversos cuidados. Terminada a avaliação, agendo dez sessões, a primeira já amanhã. — Você quer que eu te traga?