Carrossel


Mônica Thaty

Em um dia de céu nublado e coração cinza, Rita foi ao parque de diversões. Chegou lá sem saber aonde ir, guiada por um sentimento tão indefinido quanto irracional. Vontade de não ver ninguém conhecido. Vontade de perder-se na multidão.

Dia de semana, multidão de meia dúzia, mas quem precisa de mais do que isso? Um único desconhecido pode ser uma turba para quem procura a solidão.

De longe Rita viu o Carrossel. Sem luzes e sem brilho, com cavalos de tinta descascada. Mas ainda assim seu coração encheu-se de ternura, lembrando de outros carrosséis, cheios de sonhos e risadas de menina. Pagou o ingresso, acomodou-se em um cavalo verde, de crina amarelo encardido. E começou a girar.

E girou e girou. Olhou para dentro e para fora. Para frente e para trás. Riu por um momento. Achou tudo muito chato, em outro. Andou um pouco por entre os cavalos. Subiu em um azul. Desceu novamente e ficou um pouco parada, os braços meio abertos, equilibrando-se no espaço. Lembrou-se de como se divertira uma vez, ainda pequena, com algumas amigas. E em outra, já adolescente, com amigos diferentes.

Montou em um cavalo e agarrou o seu pescoço, os olhos fechados apertados e sentindo-se girar. Rápido, rápido, rápido. Lento, lento, lento. A vida estava ali, naquele carrossel. Podia fazer o que quisesse, ser o quisesse. Só não podia parar de girar ou descer do brinquedo em movimento.

O carrossel foi diminuindo o ritmo. Parou. Rita continuou.

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