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Mostrando postagens de junho, 2008

Preciosa

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Luci Afonso Ando assombrada por dúvidas e aflições e procuro uma amiga para desabafar. Atendendo ao pedido de socorro, ela deixa afazeres domésticos e intelectuais e vem ao meu encontro no 10° andar, onde temos ampla visão do horizonte. — Um café de queimar a língua, por favor, com umas gotinhas de leite - ela diz ao garçom. Eu peço o mesmo. É manhã de sexta-feira, reservada para a Oficina de Literatura na qual somos colegas de ofício. Faltamos à Oficina, mas a escrita nos acompanha aonde estivermos. Trazemos na bolsa as últimas palavras derramadas no papel, e que a partir de agora seguirão caminhos diferentes. As minhas viajarão pelo imprevisível mundo virtual, enquanto as dela serão lidas ao vivo para uma audiência privilegiada. Hoje os textos da amiga falam da água, elemento mágico que nós duas amamos. Navegamos rios e mares antes de entrar no assunto que nos trouxe aqui. — Como está você, mocinha? - ela pergunta . Sim, sou mocinha diante dessa humanóloga em estágio avançado. Ela o

Cida Sepulveda no Programa Leituras – TV Senado

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Cida Sepulveda, formada em Letras (UNICAMP), mora em Campinas - SP. Escreve poemas e contos. Publicou Sangue de Romã (2004). Foi finalista do 1o. Concurso Contos do Rio com "O Açougue", promovido pelo Prosa e Verso, do jornal O Globo. Publicou, em 2007, pela Bertrand Brasil, o livro de contos Coração Marginal, sobre o qual o poeta Manoel de Barros fez o seguinte comentário: "... Esse Boca Suja é duro, cruel e seco, mas pela linguagem você o fez atraente e belo. Um estilo! Desesperador. Que zomba das tiranias semânticas. E renova o nosso idioma..." Edita http:// www.revistavagalume.com/ Programa Leituras Apresentado pelo jornalista Maurício Melo Júnior, o programa Leituras é o espaço dedicado à análise e à divulgação da literatura brasileira. Na primeira parte do programa é veiculada uma entrevista com um escritor ou com um especialista, sempre abordando assuntos literários. Com isso, são debatidos os vários aspectos da literatura, abrindo-se espaço para todas as cor

A Língua

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Eneida Coaracy Soltei a língua à cata de palavras que o coração escondia. Ela, vadia, remexeu tudo. Bateu boca por aí, linguajou, perturbou. Desarrumou tudo. Fez palavras cruzadas, montou e remontou sílabas. Aprendeu a deslizar, não mais sibilou. Lambeu cicatrizes, secou lágrimas. Limpou tudo. Soltei a língua à cata de palavras e disse tudo Poema classificado em segundo lugar no Prêmio SESC de Poesia Carlos Drummond de Andrade - Edição 2005.

Cordel da Tropicália.1968...

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Gustavo Dourado A alegria é a prova dos nove: Um poeta desfolha a bandeira... Pindorama, País do Futuro: Samba...Carnaval...Mangueira... É a mesma dança meu boi: Na Geléia Geral brasileira... Hélio Oiticica precursor: Criou o Tropicalismo... Com a obra Tropicália: O neoantropofagismo... Fonte: Oswald...Gullar: Popcreto...Realismo... Móbiles...Parangolés: Práxis...Neoconcretismo... A voz da periferia: Rosa...Joyce...Modernismo... Aspiro ao Grande Labirinto: Hélio fez o Sincretismo... Mito da Miscigenação: Busca do Supra-Sensorial... Favela...Cara de Cavalo: Balas, capas, bananal... O folclore brasileiro: Na raiz do tropical... III Festival da MPB: Com arranjos de vanguarda... Outubro de 67: TV Record na jornada... Medaglia, Cozzella, Sandino: Manifesto na estrada... Ano 68:A 5 de fevereiro... Cruzada Tropicalista: Via Rio de Janeiro.... Nelson Motta, Última Hora: Acendeu o candeeiro... Morte de Edson Luís: Luther King assassinado... A Noite das Barricadas: Maio bem movimentado... Slogan

Sarau da Tropicália

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PROGRAMA 1-ABERTURA-GOYA Tropicália de Caetano Veloso Os Santos do Pau Oco de Eneida Coaracy 2-UM POETA DESFOLHA A BANDEIRA -Cordel da Tropicália-Gustavo Dourado -A Cara do Brasil- Celso Viáfora e Vicente Barreto com Alexandra Rodrigues e Luz Borges -A Balada do Cachorro Louco de Lenine com Isolda Marinho 2-TUKA VILLALOBOS 1 -Panis Et Circensys de Caetano Veloso e Gilberto Gil Felipe Barão : Voz e violão e Cristiane Chinchilla : percussão 4-A ALEGRIA É A PROVA DOS NOVE -Folia no Matagal de Eduardo Dusek e Luiz Carlos Góes com Liana Ferreira -Alô, Alô Marciano de Rita Lee e Roberto de carvalho com Arlete Sylvia -Tudo Vira Bosta de Moacir Franco e Rita Lee com Leila Portella -Curso Intensivo de Boas Maneiras de Boas Maneiras de Tom Zé com Luz Borges -Classe Operária de Tom Zé com André Amaro 5-ROGÉRIO MIDLEJ 1 -Beradero de Chico César 6-PINDORAMA, PAÍS DO FUTURO -Marginália II de Gilberto Gil e Torquato Neto com Emanuel Mazza -O Brasileiro Infiel de Marco Antunes com Leila Portella -B

Nunca mais

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Luci Afonso No aniversário de cinco anos, arrumaram-lhe a roupa e o cabelo e a sentaram na sala. As avós foram as primeiras a chegar. Ansiosa para abrir os presentes, esqueceu-se de agradecê-los. Os pais haviam brigado aquele dia e aproveitaram para desabafar: — Foi sua mãe que te ensinou a ser mal-educada assim? — Desse jeito, você parece seu pai! Saiu correndo da sala e agachou-se no canto do alpendre, emburrada. Esperava que alguém viesse pegá-la no colo e carregá-la de volta à festa. Ninguém veio. Durante a noite, olhou com inveja as outras crianças, que se divertiam. Os adultos comiam e falavam alto. A mãe preparava bandejas de salgados, enquanto o pai jogava truco na cozinha. Pareciam não sentir sua falta. Na hora de soprar as velinhas, desejou em silêncio: — Nunca mais vou ser feliz. Nunca mais! - repetiu, quando elas se reacenderam. — Para quem é o primeiro pedaço de bolo? - perguntou a mãe, a voz estranhamente suave. — Para ninguém. Para ninguém! - gritou, antes de correr para

ONDE ESTÁ WALLY?

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Eneida Coaracy O casal chegou ao ‘resort’ entusiasmado com a beleza das praias ao redor, o tamanho das piscinas e facilidades de lazer oferecidas e, principalmente, com o luxo dos quartos. Sim, certamente seriam dias de relax e conforto, regados a muito sol, camarões apetitosos, cerveja e muita tranqüilidade. O local era tudo que precisavam para descansar e recuperar as forças para tocar o trabalho até o final do ano. — Olha só o tamanho dessas piscinas, marido! — E só de pensar que poderemos dispor de tudo isso por um preço tão barato, fico ainda mais feliz, respondeu-lhe este entusiasmadamente. Tudo fica com um sabor melhor ainda, acrescentou. Logo alugaram um carro para melhor poderem se locomover e conhecer a cidade e praias mais distantes. Também contataram alguns amigos e se aventuraram em passeios pelos arredores. Foram a bares exóticos e comeram em um ótimo restaurante, ao qual voltaram duas vezes pela ótima comida e quantidade de camarões oferecidos nas porções individuais. Re

Por que escrevo?*

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Ana Maria Machado Por que escrevo? Porque a linguagem me fascina, me encanta, me intriga. Porque desde criança sempre adorei navegar nos mares das histórias — ouvindo, lendo, inventando. Porque a leitura é para mim um deslumbramento e a escrita é o outro lado das moedas desse tesouro. Por nenhuma dessas razões apenas, e por todas elas. E muito mais. Sempre gostei de gente, bicho e planta — e um dia percebi que linguagem, histórias e idéias são a marca do humano. E, já que eu não sou capaz de fazer como as árvores e transformar gás carbônico em oxigênio, devia tentar alguma coisa que eu pudesse fazer, para que veneno virasse fonte de vida. Na hora de escolher profissão, nem pensei que escrever podia entrar nessa categoria. Artista, sim, eu sabia que era, e não tinha jeito. Escrevendo, juntei todos os meus lados e porções, colei meus cacos internos, dei uma certa ordem ao caos interior. Por que escrevo? Simplesmente porque é da minha natureza, é isso que sei fazer direito. Se fosse árvor

Hipótese diagnóstica

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Luci Afonso Resolvo dedicar a semana antes do Natal a cuidados com a saúde. Primeiro, a consulta com o mastologista, que deveria ter sido em abril. Ele dá uma bronca pelo atraso e faz as perguntas de praxe: — Ciclo menstrual? — O último durou 75 dias. — Não se preocupe, é o climatério. Algum medicamento de uso contínuo? — Prozac, Lexotan, Tylenol, Buscopan e Dorflex. — Atividade sexual? — Moderada. — Média de orgasmos? — Um por mês. — Método contraceptivo? — Meu parceiro não pode mais ter filhos. — Vasectomia? — Idade avançada. — Atividade física? — Duas caminhadas este ano. Ele constata que atingi vergonhosos 86 quilos e me sentencia a perder, pelo menos, dezesseis. Ouço uma extensa lista de doenças causadas pela obesidade: a flebite, por exemplo, dolorosa inflamação das veias que pode levar à paralisia das pernas. Após o rápido exame de toque e a coleta de material para prevenção, ele me leva até a porta: — Prazer em revê-la. À noite, inicio o jejum para o exame de sangue. Não posso

Olho de Ciclone

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Eneida Coaracy Vejo a veia nervosa  Conectar o céu e a terra.  Vejo grossas lágrimas encharcarem  O solo apavorado cá em baixo.  Vejo o jato irado e molhado  Tombar sobre a vida,  Cair rumo abaixo.   Vejo a queda contorcida.  Vejo nuvens delirarem.  Inchadas, transbordarem.  Telhados, postes, fiação,  Tudo a dançar ao relento  A loucura dos sons do vento.  Vejo o canal lacrimal de Deus  Inchar e chorar  As dores do mundo.  Doido, perdido na Ventania  que assoprou os trastes do homem,  Está o homem nu.  O homem vê uma cicatriz no céu.  O homem vê os nervos de Deus.   Eu, no meu lamento,  Maldigo as cicatrizes da cidade.  Vejo o mundo ao redor de pernas pros ares.  Vejo as veias do firmamento repuxarem nuvens,  Assustarem o solo encolhido cá em baixo. Vejo a negra vastidão solitária.  Vejo uma cicatriz no céu  Doer no olhar.   Vejo o ciclone chorar Poema finalista do Prêmio OFF-FLIP de Literatura 2006-2007. A coletânea, publicada em parceria com a Quarto Setor Editorial, será lançada

O lugar do escritor*

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por Eder Chiodetto (Entrevista com Adélia Prado) FILHA DE DEUS “Acho que o livro é sempre melhor que eu. Estou sempre no encalço do meu próprio livro. Se o acho bonito, quero ser bonita. Quero ser boa e perfeita, igual a ele. Aquela harmonia que suponho conseguir é também a busca da minha harmonia pessoal, da minha vida, enquanto cidadã, filha de Deus aí no mundo. Estou buscando aquilo que o livro consegue antes de mim.” SEMENTES “Escrevo à mão, em cadernos, não importa em que lugar da casa. Prefiro o lápis à caneta. É o meu kit poesia. Sempre carrego o caderno, mesmo em viagens, para registrar um episódio, um acontecimento que tenha natureza poético-literária. Sei que é a semente do texto. É meu dever registrar aquilo. É um presente divino que preciso guardar. Pode estar ai o embrião de um poema, de uma prosa, de uma novela. Se você tem um dom, a coisa mais agradecida que pode fazer em relação a ele é aceitar, cuidar disso como um operário. Mas quando o livro fica pronto, costumo qu

Onze anos

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Luci Afonso Veias são... tipo... frágeis? O que é... tipo... licantropia? O que é astrofísica? Por que a minha memória é tão ruim, véi? Como se diz “páia” em inglês? Tô me sentindo culpado... tipo... por não te deixar usar o computador. Qual a diferença entre um rio e uma lagoa? Tem limão aí? O que é cul-de-sac? Por que Chicabon é tão páia? Por que inventaram o cigarro, véi? O que é... tipo... próton? Elétron? Nêutron? Íon? Como eles conseguiram chegar a uma fórmula... tipo... tão perfeita... tipo... sem seqüelas? Vamos ficar o dia todo em casa, véi? Posso pedir lanche do McDonalds? Quando você vai... tipo... consertar o PlayStation? Por que minha bunda é tão grande, véi? Tô preocupado com o aquecimento global. Se uma formiga... tipo... cair de uma montanha, ela morre? O seu cartão já desbloqueou? Por que eu tenho dor de cabeça, véi? É possível cortar ossos? Tô com medo de encontrar barata na cozinha. Os humanos evoluíram mesmo dos macacos? Como as arraias podem... tipo...

Intimidade

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Eneida Coaracy Parei de escrever de repente, segurei a velha caneta Bic toda mordida na ponta, e a examinei fixamente. Na realidade, estava dando um tempo para ver se as idéias ficariam mais claras e conseguiria desenvolver o conto que pretendia escrever naquela tarde ensolarada. Descansei a caneta ao lado, peguei um lápis e o analisei com a mesma atenção. Pus os dois na minha frente, em cima do bloco de papel, e fiquei tentando me decidir qual dos dois usaria para escrever naquele momento. Segurei o lápis, senti a maciez áspera da madeira na mão, escrevinhei alguma coisa e ouvi a grafite arranhar o papel. Observei os dois principais elementos de que dispunha para a minha tarefa literária: a folha de celulose, que um dia fora madeira, que um dia fora árvore, que dera sombra, que dera abrigo, que talvez dera frutos, que fizera parte de um sistema ecológico, que agora se transformara em instrumento de trabalho, que novamente se transformará em um outro elo dessa cadeia transformadora que

Entrevista com Marco Antunes*

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por Alexandra Rodrigues É uma hora da tarde de uma sexta-feira de novembro. Marco Antônio Antunes acaba de conduzir o ciclo de poesia, o último dos horários dessa manhã preenchidos com oficinas de conto, poesia e crônica. A despeito da longa manhã literária, mostra-se totalmente disponível e disposto para uma entrevista, na acolhedora sala do Núcleo de Literatura do Espaço Cultural da Câmara dos Deputados, em Brasília. 1. Com uma identidade inseparável da existência literária, quem é Marco Antunes, poeta e contista? De onde ele vem e qual o seu projeto literário? Quem eu sou não sei te dizer. Eu não tenho essa consciência que a gente vê em Drummond, que consegue, na primeira página do livro, fazer um projeto literário que irá cumprir até o final da vida, a ponto de chegar em seu último livro, colocar o título de Farewell e ser realmente o último livro. Talvez por isso, ao contrário de Drummond, que conseguiu se resumir de pronto em sete grandes temas, eu tenha feito meu projeto em vint