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Mostrando postagens de janeiro, 2010

Ave Marina

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Luci Afonso Ave Marina, cheia de graça . Quando ela chega, os pássaros inauguram o canto, as flores se abrem e os frutos amadurecem, desejosos de serem comidos. Quando ela ri, a manhã se anima. O Senhor é convosco . Quando ela fala, as violetas pressentem água fresca. Quando ela anda, o vento desperta para brincar com seu cabelo. Bendita sois vós entre as mulheres . Se ela chora, as lagartas se apressam para virar borboletas. Se ela sofre, as fadas tecem casulos invisíveis para sua dor. Se ela anoitece, os vagalumes a iluminam. Bendito é o fruto de vosso ventre . Ela sopra, e o céu se liquefaz em bolhas de sabão. Ela respira, e o ar se torna mais puro. Ela cria, e o cosmos se expande. Santa Marina , mãe do homem. Olhai por nós , Eva moderna. Agora e na hora da nossa sorte também . (Texto presenteado à minha amiga oculta, Marina, em dezembro passado.)

O velhinho torto

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Luci Afonso Há semanas espio o velhinho torto que caminha toda manhã de uma ponta à outra do edifício, indo e vindo, mancando e girando o corpo à esquerda. À tarde, a mesma coisa. Ainda não contei quantas voltas ele dá nem quanto tempo leva, mas sei que o trajeto nunca se altera e jamais ultrapassa os limites da calçada. É vaidoso: tênis modernos, meias brancas três-quartos, bermuda cáqui de brim, camisa de mangas curtas, cinto de couro marrom. Tem o cabelo bem cortado e a barba benfeita. Quando chove, ele traz o guarda-chuva. Se está frio, veste uma jaqueta jeans; se faz sol, usa óculos escuros. Imagino que tenha um cheiro bom e estou louca para descobrir qual é. Enquanto espero o táxi, ele conversa com o porteiro. Apuro o ouvido e descubro que se chama Rubens, torce pelo Botafogo e odeia o Arruda. Fala baixo e tem um riso gostoso de menino levado. Sempre o vejo na fila do caixa no Carrefour — eu na de 10 artigos, ele na preferencial. Embalo as compras devagar para sair dep