A Língua



Eneida Coaracy


Soltei a língua
à cata de palavras
que o coração escondia.

Ela, vadia,
remexeu tudo.
Bateu boca por aí,
linguajou, perturbou.
Desarrumou tudo.
Fez palavras cruzadas,
montou e remontou sílabas.
Aprendeu a deslizar,
não mais sibilou.
Lambeu cicatrizes,
secou lágrimas.
Limpou tudo.

Soltei a língua
à cata de palavras
e disse tudo

Poema classificado em segundo lugar no Prêmio SESC de Poesia Carlos Drummond de Andrade - Edição 2005.

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