ONDE ESTÁ WALLY?



Eneida Coaracy


O casal chegou ao ‘resort’ entusiasmado com a beleza das praias ao redor, o tamanho das piscinas e facilidades de lazer oferecidas e, principalmente, com o luxo dos quartos. Sim, certamente seriam dias de relax e conforto, regados a muito sol, camarões apetitosos, cerveja e muita tranqüilidade. O local era tudo que precisavam para descansar e recuperar as forças para tocar o trabalho até o final do ano.

— Olha só o tamanho dessas piscinas, marido!
— E só de pensar que poderemos dispor de tudo isso por um preço tão barato, fico ainda mais feliz, respondeu-lhe este entusiasmadamente. Tudo fica com um sabor melhor ainda, acrescentou.

Logo alugaram um carro para melhor poderem se locomover e conhecer a cidade e praias mais distantes. Também contataram alguns amigos e se aventuraram em passeios pelos arredores. Foram a bares exóticos e comeram em um ótimo restaurante, ao qual voltaram duas vezes pela ótima comida e quantidade de camarões oferecidos nas porções individuais. Realmente, o sabor e qualidade dos pratos saboreados eram inigualáveis. Não se lembravam de jamais haverem comido tão bem e tão fartamente. Levariam o sabor da comida desse restaurante para sempre em suas papilas gustativas. Até hoje, enchem a boca de água quando falam dessas refeições — para depois acrescentarem o número de sais de fruta que tiveram de tomar para digerir o exagero desses jantares.

Dormiam sem o ar-condicionado ligado, somente aconchegados pela brisa marinha suave que soprava através da ampla janela, debruçada por sobre uma varanda maravilhosa, de onde avistavam o mar a se espreguiçar na praia defronte. À esquerda, podiam avistar o enorme parque aquático do hotel, no momento quase vazio devido à época do ano — período chuvoso —, tempo sempre nublado, muitas ventanias. Assim, eram somente eles, o vento e o mar. E muito camarão.

Na manhã do dia 7 de setembro, ela foi acordada por muitas vozes entrecortadas, que vinham de fora, trazidas pelo vento, sempre muito forte. Pareciam sons de crianças brincando, pessoas rindo alto, conversas confusas. Em seguida, o marido dirigiu-se à varanda, abriu a porta e ficou fora algum tempo. Os sons se tornaram mais claros, mais altos, mais conectados. Um verdadeiro murmurinho. Em seguida, percebeu que o marido falava-lhe da varanda, mas não conseguiu entender bem o que dizia. Só conseguiu entender a palavra ‘Wally”, porque fez uma associação com um jogo que gostava de jogar com os filhos quando pequenos. O resto da frase perdera-se ao vento.

Decidiu levantar-se e ver o que estava acontecendo. Foi à varanda do jeito que estava — enrolada num lençol — e parou estupefata na porta ao avistar a cena que se descortinava à sua frente às 9 horas da manhã do dia 7 de setembro de 2007: um parque aquático tomado por uma multidão de turistas que haviam chegado na noite anterior enquanto eles se divertiam com amigos em uma festa. Segundo soube posteriormente, enquanto enfrentavam a fila do café-da-manhã num dos três restaurantes superlotados, haviam chegado 750 hóspedes num pacote de feriado — duas diárias pelo preço de uma e meia com direito a estada livre para crianças menores de 5 anos. O hotel ficaria praticamente lotado por dois dias, com turistas, a maioria recém-casados, em busca de um descanso barato enquanto desfrutavam de alguma tranqüilidade após confiarem seus filhos menores aos cuidados de animadores culturais especialmente contratados pelo hotel para entreter a clientela mirim em tais ocasiões.

— O que você está falando que eu não consegui entender direito, com essa multidão a gritar aí embaixo às 9 da manhã? O que diabos aconteceu neste hotel do dia pra noite e que transformou este oásis num verdadeiro ‘piscinão da praia de Ramos’? Que diabos está acontecendo? - questionou a esposa, atônita com o que via logo abaixo da sua varanda.

— Ora, respondeu o marido, rindo. Agora só nos resta brincar de ‘Onde está o Wally?’ daqui de cima. Olhe bem a multidão e tente descobrir onde está o cara que está cantando esta música brega. Um, dois, três, já! Vamos ver quem é mais rápido? Agora, onde está a professora de hidroginástica? Ganhei! Agora...

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