Primo, prima
Luci Afonso — Está feliz, prima? A voz carinhosa a despertou do meio-sono em que se encontrava desde que a caipirinha lhe subira de repente à cabeça, no show de forró. Não dançaram nenhuma música, ele com reumatismo, ela com artrose. Em compensação, beberam e trocaram confidências a noite inteira, enquanto os membros mais jovens do grupo arrumavam pares na pista de dança. A embriaguez inesperada a deixara leve e risonha e lhe servira de pretexto para se apoiar no braço forte, que não largara mesmo depois de passado o efeito da bebida. Do forró saíram para o bar do Gonçalinho, em busca do famoso mexidão, que rebatia qualquer bebedeira, e de lá resolveram esticar até o Cristo, o ponto mais alto da pequena cidade, para assistir ao nascer do dia. Sentaram-se debaixo da Árvore dos Enforcados, a mais antiga da região, e na qual, segundo a lenda, escravos revoltosos eram punidos com a morte. A madrugada estava fria e úmida, mas não sentiam frio nem se incomodavam com o chuvisc