Enamoramento 1
Maria Amélia Costa Olha-o por trás. Sentada ao lado dele fez com o olhar um contorno impossível. Ela gosta de olhar por trás, comedida em feições que se expressam na clandestinidade de quem acredita que pode ver além. Não ser vista e assim cercar o ser amado com cercanias quadradas, redondas, perpendiculares, transversais. Trazer fiozinhos sutis e delicados das entranhas da terra para o atravessarem, o fixarem e o aprisionarem no tempo que é só dela. No tempo que é dela quer, também, vê-lo pelo lado do lado dele: nem à frente, nem atrás, nem de cima. De cima, talvez. Contudo, de lado. Mas, não quer ser vista. Nessa condição clandestina o olhar o atravessa na pretensão de luz que tudo ilumina, decifra, expõe, constrange. Ele está distraído com alguma coisa, tocando alguma coisa ou, simplesmente, olhando em frente enquanto fala com ela. Mas ela não quer falar. Talvez até queira. Talvez até fale uma banalidade qualquer. Mas, definitivamente, não é falar o que ela quer. Não naquela hora. N