Pessoas que nos atravessam
Maria Amélia Costa
Eu o encontrei.
Entrei na livraria fazendo uma daquelas coisas que se faz por hábito, como esse que tenho de pesquisar em livrarias cada vez que vou a um shopping center.
Um pouco melancólica e entregue ao acaso não coloquei atenção nas pessoas que se movimentavam no interior da loja. Estava distraída quando fui surpreendida por um “oi” vindo ao meu encontro. Virei. Era ele. Abraçamos-nos e nos dissemos alguma coisa, ao mesmo tempo, numa surpresa única.
Não consigo imaginar a expressão do meu corpo naquela hora. O que disseram os meus olhos ou a minha boca trêmula. Ele estava ali, na minha frente, como um milagre.
Tantas vezes conversei contigo nos tempos de ausência. Disse tantas coisas!
Compartilhei momentos. Contei histórias e feitos meus. Falei da falta que sinto
das vezes que sorrimos juntos por coisas banais. Falta dos cuidados teus. Que
por vezes me vejo em atitudes tolas, iluminando pequenas coisas que vieram de
ti. Emoldurando. Ilustrando. Colocando sentido. Fazendo história. Contigo ao meu
lado, por noites sem fim, chorei e disse da saudade que sinto.
Agora ele estava ali, na minha frente. Sorrindo. Amoroso. E eu não sabia o que fazer. Não sabia o que dizer. Paralisada, reparei na camisa listrada que conhecera outrora, no cabelo de fios levemente dourados e no sorriso. Dei-me conta, mais uma vez, de que ninguém sorri como ele! Sei que fiquei olhando, sem vida, porque tudo parou em mim. Tentei disfarçar. Girei em torno daquela emoção que tomou conta de tudo o que estava em volta e me deixava mole, lerda, inerte.
Quis desaparecer e parar o presente a um só tempo. Aprisionar o universo para que nada se movesse e tudo se aquietasse na eternidade daquele momento.
Meu Deus, como quis que o tempo parasse... Eternizar o instante e nele fazer tudo o que sonhei fazer, dizer tudo o que desejei dizer. Tocar e sabê-lo quente.
Segurava um livro em uma das mãos. Explicou que era para a filha que se formara em Arquitetura e que estava esperando no carro estacionado em fila dupla lá fora e que por isso, lamentava muito, mas tinha que ir.
Uma angústia singular e a sensação de impotência amoleceram os meus ossos.
Disse uma despedida e novamente me abraçou.
Fiquei ali. Esvaziada, abatida, sem forças sequer para olhar e vê-lo se afastar, sair pela porta de vidro e se
perder.
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