Quanto fazer!
Luci Afonso Terminado o exaustivo trabalho da Criação, Deus se espichou na rede para tirar um cochilo. Ligou o rádio para se distrair um pouco: “ Açaí, guardiã, zum de besouro ...” Trocou a emissora. Não suportava letras sem sentido. “ Açaí, guardiã, zum ...” Passou para AM: “ Açaí, guardiã ...” Desligou o aparelho. O jabá do cara era forte. Resolveu descansar sem música mesmo. Não conseguia relaxar. Será que agira certo ao juntar uma serpente, um homem e uma mulher desocupados e um fruto proibido? Em retrospectiva, parecia uma mistura explosiva. E era. Teve a confirmação quando pegou no sono e anteviu, em pesadelo, a confusão em que o mundo iria se meter, da primeira à última mordida. Como corrigir a besteira que havia começado se ele mesmo, ao criar Eva, apaixonara-se desesperadamente e não conseguia afastar os pensamentos libidinosos? Enquanto Deus remexia-se na rede, um enorme besouro aterrissou no nariz do velho e começou a cantar: “ Estaí, guardiã ...” — Uma guardiã! —