Mensagem


 Cida Sepulveda


Queridas e queridos

A chuva me põe melancólica. A chuva que nos abençoa desde sempre. Mensagens de Feliz Natal e Ano Novo pipocam aos olhos, à cabeça, aos ouvidos. A gente se enche de presentes e promessas. Mas, lá na favela, as meninas cujo pai, condenado e preso por molestá-las sexualmente ganhou a liberdade (elas ouviram falar) muito antes de cumprir os 22 anos de cela, elas, quatro lindas garotas, se amontoam junto à mãe e o irmão (que já começa a agredi-las), em dois cômodos abarrotados de coisas, desejos, infortúnios, tédio, medo, solidão, falta... A falta que Manoel de Barros sempre aponta em meus textos: “o amor de alguma falta”.

“O amor de alguma falta” que me move; que me vitaliza: usar a palavra para contar a história dos que estão amarrados à condição menor, humilhante, incapacitante, através da poesia, a que não exclui ninguém, muito embora, alguns espíritos doentios costumem dizer que a grande arte é para poucos. Há tanta poesia nessas meninas que visitei hoje, sábado, 18 de dezembro de 2010, tarde chuvosa, inocente e bela como os olhos cintilantes de jovens que brotam da terra invadida.

Comentários

  1. Lindo demais! Tão interno, tão de verdade! A Cida que eu conheço mais é a dos livros, dos Desafios. Esta aqui, socialmente poética, humanamente realista eu não tinha, ainda, captado!
    E o que dizer da frase: "...muito embora, alguns espíritos doentios costumem dizer que a grande arte é para poucos."
    Ah, as elites que pretendem se instalar até na poesia! Xô! É isso aí: poesia é beleza das mais democráticas, porque se faz com o coração, e não com a mente culta, ou com o bolso recheado!
    PARABÉNS, CIDA!

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