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Mostrando postagens de março, 2019

Vigas metafísicas

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Tarlei Martins “Eles eram muitos cavalos” percorre em um dia as entranhas da cidade de São Paulo, da gente que vive naquela “metrópole apressurada” – como é chamada pelo também mineiro, e também escritor, Evandro Affonso Ferreira. Nada escapa ao olhar do Ruffato. Por conta da imensidão que é essa “metrópole apressurada”, o olhar tem de ser um olhar caleidoscópico. Ruffato se sai muitíssimo bem do desafio. Coloco "Eles eram muitos cavalos" na categoria dos clássicos fundamentais. Tomo emprestada a definição de clássico que ouvi de José Miguel Wisnik: "Clássico é que aquele tipo de obra que não cessa de renovar sua atualidade". Na minha leitura, foi com esse livro que o Ruffato redesenhou sua trajetória de escritor de ficção. O que veio depois foi a pentalogia “Inferno provisório”, em tudo magistral. O “Inferno...” compõe-se de “Mamma, son tanto felice”, “O mundo inimigo”, “Vista parcial da noite”, “O livro das impossibilidades” e “Domingos sem Deus”.

Pequenos Noés

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Tarlei Martins Sou um leitor crônico de crônicas. Leio de tudo, mas confesso meu xodó por esse gênero chamado menor – que eu considero enorme. Só de saber que a crônica não é de fazer gênero, já tem minha simpatia. E leio assim: quem não é de fazer gênero, na verdade transita por todos os gêneros. A crônica é dessas. Minha identificação com o cronista Paulo Mendes Campos, Paulinho para os íntimos, é total. Admiro no Paulinho a suprema habilidade em assentar sobre uma irresistível armadura lírica quase tudo o que ele unge com a palavra. Vejo os cronistas como pequenos Noés que, diante do dilúvio de esquecimento, abrigam em suas arcas muito do que pescam no caudaloso rio do cotidiano. Além de Noés, os cronistas têm seu quê de alquimistas. É graças a esse poder que o ordinário se veste de extraordinário. Benditos todos os cronistas cuja especialidade é dispor lirismo e leveza “sobre as armações metálicas do mundo”. (Comentário do escritor Tarlei Martins publicado no Facebook

Fotografia

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Luci Afonso A fotografia nos mostra caminhando de braços dados na praia. O mar acaricia nossas pernas. Quando vem uma onda mais forte, corremos em direção à areia. Nossas figuras se refletem na água rasa. Estou à esquerda, de biquíni azul, alta, a postura incerta; ela está à direita, estatura baixa, postura firme. Não dá para dizer quem está apoiando quem. Somos mãe uma da outra. No último dia, ela planeja me dar um banho de mar, pois ainda não entrei na água. Chama meus sobrinhos e manda que me levem à piscina formada com o recuo da maré. Eles me agarram e me deitam na água morna e salgada, enquanto ela observa da barraca. O banho é registrado numa foto.   Em outra, tirada no ano-novo, estamos todos de branco. Somos sete. Ela está de camiseta e bermuda brancas e fez um coque, o que só acontece em ocasiões muito especiais. Eu visto um longo bordado e uso brincos enormes de madrepérola, que comprei na feirinha da cidade. Faço um brinde ao meu amor ausente. À meia-noite,

Viagem ao Sul de Mim III

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“...só resta ao homem (estará equipado?) a dificílima dangerosíssima viagem de si a si mesmo: ...” Carlos Drummond de Andrade. O Homem; as viagens O lançamento do meu livro "Viagem ao Sul de Mim" será em abril 2019 Imagem: detalhe de ilustração de Marcia Bandeira para a crônica "A vista de cima".