Fotografia




Luci Afonso

A fotografia nos mostra caminhando de braços dados na praia. O mar acaricia nossas pernas. Quando vem uma onda mais forte, corremos em direção à areia. Nossas figuras se refletem na água rasa. Estou à esquerda, de biquíni azul, alta, a postura incerta; ela está à direita, estatura baixa, postura firme. Não dá para dizer quem está apoiando quem. Somos mãe uma da outra.
No último dia, ela planeja me dar um banho de mar, pois ainda não entrei na água. Chama meus sobrinhos e manda que me levem à piscina formada com o recuo da maré. Eles me agarram e me deitam na água morna e salgada, enquanto ela observa da barraca. O banho é registrado numa foto.  
Em outra, tirada no ano-novo, estamos todos de branco. Somos sete. Ela está de camiseta e bermuda brancas e fez um coque, o que só acontece em ocasiões muito especiais. Eu visto um longo bordado e uso brincos enormes de madrepérola, que comprei na feirinha da cidade. Faço um brinde ao meu amor ausente. À meia-noite, assistimos à queima dos fogos e pulamos, de mãos dadas, as sete ondas que vão purificar corpo e espírito e que trarão sorte no ano que começa.
Há outras cenas: ela cochila na espreguiçadeira, enquanto leio um romance. Eu faço palavras cruzadas, enquanto ela saboreia uma água de coco. Somos flagradas comendo isca de peixe, de camarão, moqueca de arraia e caranguejo.  Ela se recusa a usar o chapéu que compramos para ela; eu uso os três que comprei. Na última foto, à tardezinha, contemplamos o incêndio que o pôr do sol provoca no céu, na água e na areia. Ambas pensamos no retorno à vida em Brasília. Como sobreviver longe do mar, se nos apaixonamos por ele?
Terminam as férias: durante muitos dias, nos revigoramos a cada onda que chegava ou deixava a praia. Vamos embora, por enquanto. Só o mar sabe se voltaremos.  

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