Pequenos Noés

Tarlei Martins

Sou um leitor crônico de crônicas. Leio de tudo, mas confesso meu xodó por esse gênero chamado menor – que eu considero enorme. Só de saber que a crônica não é de fazer gênero, já tem minha simpatia. E leio assim: quem não é de fazer gênero, na verdade transita por todos os gêneros. A crônica é dessas. Minha identificação com o cronista Paulo Mendes Campos, Paulinho para os íntimos, é total. Admiro no Paulinho a suprema habilidade em assentar sobre uma irresistível armadura lírica quase tudo o que ele unge com a palavra. Vejo os cronistas como pequenos Noés que, diante do dilúvio de esquecimento, abrigam em suas arcas muito do que pescam no caudaloso rio do cotidiano. Além de Noés, os cronistas têm seu quê de alquimistas. É graças a esse poder que o ordinário se veste de extraordinário. Benditos todos os cronistas cuja especialidade é dispor lirismo e leveza “sobre as armações metálicas do mundo”.

(Comentário do escritor Tarlei Martins publicado no Facebook)

Comentários

  1. Obrigado, Luci! Minha opinião sobre a crônica se estende a você, cronista de primeira. Já li todos os seus livros e aguardo o próximo, "Viagem ao sul de mim". Abs!

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