Cuidado com o X.!
Manuel Bandeira Outro dia tomei um táxi-lotação para Copacabana, havia dois lugares vagos atrás, mas anoitecia, peneirava uma chuvinha miúda, fazia frio, preferi sentar-me no banco da frente para me aquecer ao calor da máquina. O passageiro que ocupava a ponta teve o gesto antipático de sair muito polidamente para me dar entrada, e lá fui eu, espremido entre ele e o chofer, quando a lotação se completou com dois novos passageiros. Estes eram grandes palradores, um ao que parece literato e bastante academizável, pois, caindo a conversa sobre a Academia, o outro perguntou-lhe: — Você nunca pensou em se candidatar? Aí apurei o ouvido, quer dizer, dei toda a força à minha maquinaria de ouvir e o que ouvi foi isto, que reproduzo com a possível fidelidade: — Eu, candidatar-me? — Por que não? — Deus me livre! — Tem preconceito antiacadêmico? — Não é isso. Não tenho é vocação para ser traído! — Traído? — Não quero dar ao X. o gostinho de me fazer o qu