Três cronistas brasilienses
Nesses primeiros dias
de chuva e de aposentadoria (combinação deliciosa), chegaram-me às mãos três
livros que li e amei:
Ephemeris,
A Idade do Nunca/L’Âge de Jamais (edição bilíngue), Angela Maria Delgado, Thesaurus Editora, 2005. Neste diário transformado em livro,
acompanhamos Angela num ritmo frenético, que inclui ler, escrever, traduzir,
cuidar da casa, ler, cuidar do marido, ler, olhar os netos, ler, caminhar, ler,
andar de costas para usufruir o pôr do sol, ler, ter insônia, ler mais um
pouco. Esta leitora ávida e exigente nos traz a companhia de Clarice Lispector
e José Saramago, para citar apenas dois, ao mesmo tempo em que comenta a
invasão do Iraque pelo Presidente Bush e outras questões mundiais. Várias
leituras numa só — uma experiência enriquecedora.
Quase
pisei!, Roberto Klotz, Edição do Autor, 2009. Klotz é
irreverência pura. Em suas caminhadas diárias pela Asa Norte, veste um short
sem elástico, conversa com seu tênis (isto mesmo, tênis) tarado, passeia com
uma poodle em formato de couve-flor e
consola uma mulher que perdeu o piano no bingo. Tudo isso enquanto evita pisar
nos montinhos deixados pelos cachorros, pois titica no tênis dos outros não fede. Para bom preguiçoso meio passo basta — eu, que odeio
caminhar, senti vontade de começar, ao saber que quem anda seus males debanda. Infelizmente, quando um pé não quer, o outro também não vai, e uma andadinha só não faz verão. Vou
ficar sentada mesmo, lendo Klotz.
Do
todo que me cerca, Cinthia Kriemler, Editora Patuá, 2012.
O que posso dizer de Cinthia que já não tenha dito? Do conto à crônica, da
carta ao romance, do poema ao ensaio, esta escritora de dez mãos é a maior
promessa surgida no meio literário brasiliense nos últimos tempos. Você está
triste, desesperançado? Leia um conto de Cinthia. Está exultante, apaixonado? Escolha
um poema. Com sede na alma? Procure uma carta. Indiferente ao mundo? Devore as
crônicas deste livro, escritas com sensibilidade, franqueza e até bom
humor. Depois, apague as luzes
e sinta os olhos brilhando no escuro — não tanto
quanto os de Cinthia, já que somos apenas seus leitores.
Senti-me muito bem
acompanhada pelos três autores, enquanto a chuva trazia alívio à seca que nos
cerca.
Viva a crônica!
Viva a chuva!
Viva Brasília!
Viva a meiguice de Luci Afonso!
ResponderExcluirViva "A Senhora dos gatos"!
Viva Cinthia e Klotz!
E obrigada, Luci, por suas generosas palavras!