Mão de sopa
Luci Afonso Além de estar temporariamente surda e afônica devido à forte gripe, ela já não enxergava bem. Por isso, escrevi em letras bem grandes: QUER SOPA? Seus olhos brilharam e o polegar levantou-se, com entusiasmo. Minha sopa era inigualável. As tias de Minas, grandes cozinheiras de forno e fogão, diziam que eu havia sido abençoada com mãos de sopa — minha única habilidade culinária. FRANGO OU COSTELA? Ela simulou um movimento curto de asas, indicando a primeira opção. Depois, juntou as mãos no formato de um pão e o cortou com uma faca imaginária, lembrando que ela não dispensava o acompanhamento. PIMENTA? O polegar e o indicador se aproximaram, indicando “só um pouquinho”. Ela fechou os olhos. Precisávamos nos comunicar por escrito porque ela se recuperava da infecção de ouvido que causara a perfuração do tímpano. Antes, ela ainda escutava um pouco se gritássemos. Porém, recusava o aparelho com medo de que caísse dentro da orelha. Era avessa a médicos, mas há