A visita
Não vejo o Sr. José Maria há alguns dias e não consigo esquecê-lo. Em algum ponto do trajeto entre casa e trabalho, certamente à vista de algum ipê amarelo úmido de chuva, os desejos do meu taxista de confiança se misturaram aos meus. Decido visitá-lo à noite no ponto-casa. Encontro-o sentado num banco de madeira, assistindo à TV. Ele se espanta com meu vulto vermelho emergindo do escuro — estou de vestido vermelho, salto alto, brincos de argola e pulseira. Ele está à vontade, de chinelos. Não sei qual de nós está mais surpreso com a improvável visita. Ele se levanta para me cumprimentar e pela primeira vez o vejo de pé. Meu amigo é de uma feiúra cativante: magro, um pouco mais baixo que eu, rosto pequeno, olhos pretos minúsculos, nariz grande, orelhas enormes. As mãos rústicas e miúdas parecem gravetos. Os dentes que não perdeu estão escurecidos. Ele me indica o banco, pega uma cadeira e começamos a conversar. Observo à minha volta: os sapatos debaixo do banco, algumas camisas em cabi