A velhinha trêmula
Luci Afonso Dona Flor desce do carro com o auxílio do motorista e da cuidadora. Está atrasada. Caminha a passos de bebê até a porta, cumprimenta todas num fiapo de voz e é instalada na cadeira mais próxima do lavatório. As meninas estão a postos. — Tratamento completo hoje, Dona Flor? — pergunta Marijô. — Sim, por favor, querida. Mais a hidraaaatação. — A raiz tá grande, né? — É, minha filha, faaaalta de tempo. — Loira ou morena? — Loiiiiríssima. — Tem festa hoje? — Não, só manuuuutenção. Dona Flor empaca nas vogais. As meninas já estão acostumadas. Os cabelos são ralos como os de uma jovem espiga de milho. No alto da cabeça, um pequeno espaço descoberto, que Marijô disfarça penteando os fios de lado. — Vai pintar a unha, Dona Flor? – Sônia se aproxima com os apetrechos de manicure. — Sim. Tem o Deeeeesejo? — Novinho! Ela estende as mãos: — Desculpe, estou treeemendo um pouco hoje. — Tudo bem. É bom que dá uma sacudidinha — brinca Sônia.