Pois é, peraí...
Luci Afonso Acabamos de nos mudar para o último andar, que não tem copa. Dona Ridica, a copeira do andar inferior, controla seu pequeno reino como uma déspota, interrompendo, sempre que necessário, a conversa ao telefone: ( Pois é, minha filha. Você sabe que sou uma pessoa feliz, satisfeita. Amo minha família. Meu marido, meus filhos, meus netos, todos me respeitam. Minhas noras, então! Peraí... ) — A senhora vai levar três copos? Precisa tudo isso? Aí eu fico sem nenhum. Quanto mais eu ponho na bandeja, mais vocês pegam! Se puser dez, pegam dez. Se puser vinte, pegam vinte. Põe copo, pega copo. No fim do dia, acabou! ( ...Pois é, eu me dou bem com todo mundo, adoro meus vizinhos. Não reclamo de nada, aceito tudo caladinha, barulho, confusão, tudo! Peraí... ) — Aqui não pode almoçar, não. Se todo mundo quiser sentar, onde é que eu fico? Hã? O micro-ondas é só da copa. A senhora quer saber como esquentar a comida? Melhor trazer quente de casa. ( ...Pois é,