Última Música
Luci Afonso — Adoro esta hora! — ela pensou, mais uma vez, às 11:11. Amava os números, especialmente o número um. O início, o princípio, o começo de tudo. A unidade, a totalidade, a completude. Procurava-o em jornais, revistas e placas de carro. Reverenciava-o na tela do computador. Coisas boas sempre aconteciam nesta hora — o nascimento do filho mais velho, a compra da casa, a confirmação do novo emprego. Todo dia fechava os olhos e agradecia em silêncio as bênçãos recebidas. Depois se sentia disposta a cumprir a agenda frenética, assinalando em verde os assuntos já resolvidos; em azul, os encaminhados; e em vermelho, os pendentes. Num dia normal havia, em média, vinte itens. No topo da lista de hoje estava o aniversário de casamento, que seria em quinze dias. Ela já cuidara de todos os detalhes. Comprara o vestido, reservara o restaurante, enviara os convites, contratara os músicos. Faltava apenas escolher a roupa do marido, dos filhos, dos pais e das irmãs, além de providenc