Mulheres maduras




                                                                     Isolda Marinho 

Mulheres maduras usam sapatos de cor e assumem riscos, quando os retiram para refrescarem os pés em um riacho de água mansa. Desligam seus telefones para que nada interrompa a beleza deste momento.

Elas são senhoras de si mesmas. Dispensam sutiã e caminham como garça que conhece a trilha dos poderosos. Não ligam para lençóis mal dobrados ou vincos não marcados. Não se preocupam com relógios que não são despertadores nem com envelopes sem remetente.

Mulheres maduras são quase puras. Às vezes, semideusas. Ainda que tenham gestos frívolos, não perdem a sabedoria. Não têm aureola no alto da cabeça, mas sabem usar a cabeça quando querem impressionar com o coração.

Compartilham seus saberes com outras mulheres. Formam uma ciranda de sonhos e se encontram num piquenique no parque, à beira de um lago, para se inspirarem à luz do sol que se despede do dia. A maturidade destas mulheres é como rocha que se estabelece no chão do saber.

 Mulheres maduras e suas leituras. Leem livros, premiados ou não; versos, rimados ou não. Escrevem letras sabidas, acordam palavras silenciosas, dando nome às coisas, mesmo sabendo que nem todas as coisas precisam ter nome. Frequentam um clube para trocar a textura de seus inventos. Em estado de empatia mútua, se ouvem, se apoiam, se sustentam. Quando choram, umedecem a alma ressequida; quando sorriem, iluminam o breu da solidão; quando dançam, suavizam a crueza da saudade. Quando escrevem, se doam em inteireza.

Quando eu amadurecer, quero ser uma delas.


Isolda Marinho foi uma das poetas lidas pelo Clube de Leitura para Mulheres Maduras em 2020 e se tornou Membro Honorário. É ela que nos dedica esta homenagem.


Comentários