Uma casa para Luci

 



Luci Afonso

 

Descubro aos poucos os segredos da nova casa. É de madeira, com paredes amarelo-queimado e enormes janelas de vidro. No gramado da frente, plantei ipês-amarelos, e, atrás, há uma jabuticabeira e um pé de romã bem altos. Reservo a charmosa suíte externa para o ateliê. Quando o dia clareia, me levanto e abro as cortinas para o sol. Como fazia na infância, numa camisolinha de algodão florido e renda, penso: Aqui serei feliz.

Ao longo da vida, sonhei muitas vezes com esta casa, com gramado, árvores, flores, sol, sombra. Logo escolho meus recantos favoritos e neles passo grande parte do dia. Moro com três jovens e três gatos. Nunca estou sozinha. Ao longo do dia, nos espalhamos, gente e gatos, pelos quatro cantos da nossa vivenda.

De manhã, sento-me ao sol para fazer colares coloridos, que depois penduro nas árvores. É uma saudação à nova morada e uma celebração do longo caminho que percorri até aqui. No final da tarde, mato a sede das plantas e a minha, enquanto vai escurecendo. À noite, acendemos os postes no jardim e conversamos na varanda até vir o sono. A esperança reaparece.

Minha casa me espera desde sempre. Aqui volto a ler, a sorrir, a escrever. Aqui tenho para sempre a cura da solidão. Aqui sou feliz.

                                                                           Outubro de 2020

                          (Imagem: foto da autora)


Comentários sobre Uma casa para Luci

Alexandra Rodrigues

Não me canso de reler essa crônica! Só quem sabe perseguir a felicidade é capaz de um texto assim.

Adelaide Jordao

Luci, a sua casa é linda. Abriga a delicadeza e o frescor de uma alma iluminada. Que bom que você a encontrou.

Lucimar Rodrigues

Que delícia de texto!

 Margarida Côrtes

Muitas felicidades na nova casa, Luci!

Tarlei Martins

Que sua nova casa tenha um tanto de asa! Bela crônica!

Maria Célia Morici Corrêa

Maravilha, Luci!


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