Amor encontrado

 





Luci Afonso

 

Tenho escrito tanto sobre o amor perdido que esqueço de falar do amor encontrado.

O pé de camélia me oferece uma flor todo dia. Eu a recolho da grama e a coloco em oferenda ao Buda na entrada da casa.

Os pés de jabuticaba e de romã estão cheios de brotos.  Eu os visito pela manhã e à noitinha.

A bela jovem me tira para dançar no baile de carnaval. A pureza do gesto me comove.

A adolescente me abraça e alisa meu cabelo. Como minha avó fazia.

As crianças, os velhos e os gatos me ensinam a viver. Eu aprendo.

A mãe planta ipês e damas-da-noite no jardim. Eu os vejo brotar e crescer, como tenho feito em sessenta anos de vida.

O vento sacode meus colares pendurados nas árvores. O reflexo das miçangas enfeita as paredes.

O sol atravessa as lantejoulas e ilumina o quintal. A dança das luzes me energiza.

A água refresca as plantas. Sacio minha sede junto com elas.

A lua cheia promete momentos felizes.  Há muito tempo não observamos a lua cheia.

As bolhas de sabão sobem rápido para o céu. A leveza invade a alma.

As cores me atraem na sala simples transformada em ateliê. A amizade com as cores é antiga e eterna.

Brotos, flores e folhas trazem fertilidade à minha recriação da vida.

O que foi que perdi mesmo? Não tenho tempo para o amor perdido.

Só para o amor encontrado.

Agosto de 2020


Comentário de Alexandra Rodrigues: O tema é fascinante, a crônica eu bebi como um chá de camomila a apaziguar a alma. Que sabor de Vida!  

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