Poesia e Emoção



Marco Antunes

“O que em mim sente, está pensando”

Fernando Pessoa

Há poucas semanas escrevi um pequeno poema de teor modernista, quase um poema-piada, que, como seus antepassados da lavra dos poetas da primeira geração modernista no Brasil, não deixou de causar uma certa celeuma.
Assunto que mantenho com intransigente convicção no que se refere à minha obra e, em geral, à obra de todos os poetas que, de fato, aprecio e pego para ler por vontade e não obrigação.
Dizia o poema: “Poeta emocionado? Ora, me poupe! / Senhor florista, as flores têm que exalar perfume é na casa do freguês.”
Foi o que bastou para entrar em diversas conversas com pessoas que não gostaram da opinião ou simplesmente me pediam explicação.
Não tem muito a explicar, não. É profissão de fé mesmo! Só acredito que a emoção esteja pronta para o poema depois de ter sido considerada pelo pensamento, filtrada na razão, reduzida a símbolo que faça um bom diálogo com os grandes mitos eternos.
Antes disso, é confessionalismo e nada mais, é derramamento sentimental de mentes preguiçosas, é fazer bonito para a próxima reunião de mães, é uma espécie de demagogia barata. Em suma, nada que valha a pena e possa ser lido como Literatura.
Não é literatura, Marco? Não no alto sentido em que a quero alçar. É texto escrito, bonitinho às vezes, jamais belo.
O patamar do belo é tão acima do andar vulgar da emotividade que onde se assemelham é o belo que fica em cheque, não o bonitinho que a ele ascende.
Quando estou encolerizado, revoltado, apaixonado, destemperado, indignado, amando, grato, feliz, infeliz, etc. Posso sentar e escrever páginas e páginas de prosa para me autoexplicar o que é esse bolo disforme emocional que quer explodir dentro do peito, mas não está ainda em estado de poesia, estando, aliás, muito, mas muito distante do ponto em que servirá de matéria-ima para a Poesia.
Poesia, como a entendo, é coisa para adultos profundos ou jovens virtuosos, não para dedinhos apressados que correm ao papel com emoções não lapidadas querendo encrustar no polido aro da Poesia seu pedregulho sujo de emoção irrefletida.

Noto que um dos truques que minha mente utiliza para criar é estar sempre infantilmente em estado lúdico passeando entre universos às vezes opostos ou muito diversos, de modo que metáforas e associações imprevisíveis acontecem com muita frequência. Esse é o lado bom. O outro lado é que devo ser o pior revisor do mundo e produzir textos mais objetivos pode ser um problema. Por exemplo posso olhar a grafia de uma palavra escrita mil vezes como "talvez" e estranhar totalmente, achar aquele "z" esquisito e escrever com "s"
Minha mente nem sempre sabe
Toda noite eles me assombram
Não me (...) quando pode ou não ser criativa e como atenção para alguém hiperativo como eu não é mesmo um ponto forte, está feito o desastre. Se vc for professor então pode chegar em sala e escrever Guimarães Rosa e dar uma aula inteira sobre Vidas Secas de Graciliano Ramos. Por que não? Afinal ambos têm nomes com GR.
Já aconteceu! Nomes de pessoas comuns também costumam sofrer com minha "criatividade".




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