Hoje acordei tão Brasília!




Isolda Marinho


Hoje acordei tão Brasília!
Meus braços viraram asas
Tesouras que cortam moradas em quadras
Agulhas que arrematam com linhas difusas
as retas que costuram candangas satélites
e balões que circundam imaginárias esquinas
Tudo se cruzando no grande eixo
que é meu corpo de ponte.
Meus cabelos são agora coloridos ipês
em que cigarras cantantes anunciam
tão desejadas gotas de refresco na sequidão.
Ah, Brasília!
de águas claras, lindas, emendadas
onde a esperança tem campo
          as emas têm recanto
           e o riacho não é raso.
Hoje eu sou toda esta cidade!
E quando chega o céu lilás
me deito no leito de um lago artifício
para amanhã acordar de novo — e sempre.
Brasília
21/4/20


                                   

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