O patinho mais bonito
Luci Afonso
No quarto ano do grupo escolar,
tive uma professora chamada Elza, que sempre contava estórias e pedia à turma
que as desenhasse. Um dia, depois de nos contar a do patinho feio, nos propôs o
desafio de retratá-lo. O melhor trabalho seria escolhido para a exposição no
mural da escola.
Minha caixa de lápis de cor era
de 48 unidades. Ninguém tinha igual. Entusiasmada, usei todos os tons de
amarelo para retratar o patinho. Queria fazer um bem bonito, e não feio, como
mostrava a estória. Coloquei-o num lago com vários tons de azul, cercado de
plantas em diversos tons de verde. Também pintei o sol e um coração, para
mostrar à professora que a amava. Eu tinha certeza de que ganharia o desafio.
Não ganhei.
— Está muito bonito — disse a
Profa. Elza, comovida —, mas eu pedi um patinho feio. Esse não serve.
Não consegui responder nem falar
da minha intenção de fazer o melhor desenho. Chorei.
Eu me achava a criança mais
inteligente do mundo. Almejava ser a primeira; tinha que ser a melhor. Nove
vírgula nove era pouco; só me contentava com 10. Fui crescendo e descobri que
havia muitas pessoas mais inteligentes que eu. Demorei a aceitar esse fato.
Continuo tentando fazer o patinho
mais bonito, com o máximo de cores possível. A caixa de lápis de cor continua
sendo a maior. Algumas vezes consigo, outras, não. Não adianta mais desenhar
sóis e corações: eles não comovem professoras como antigamente.
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