Gatos e flores




Luci Afonso

Meu novo apartamento é pequeno. Pequeno, não, minúsculo. Fica no primeiro andar, onde se ouve todo o barulho da rua. Motoqueiros entregando comida, carros acelerando, gente conversando na calçada. Mas aos poucos eu aprendo a gostar dele.
O vizinho da casa em frente mandou pintar o novo portão de branco. A senhora que mora ao meu lado tem um pequeno jardim na marquise. Ouço quando ela abre a janela, duas ou três vezes ao dia. Em alguma casa subindo a quadra, alguém estuda flauta. O sino da Igreja toca ao meio-dia. Um gato amarelo passa em frente à janela.
Comprei flores amarelas para enfeitar a sala. Depois de secas, eu as coloco na minha sala de escrever e acendo um incenso, enquanto medito. O poste lança a luz amarela nos quartos. Se eu abrir a persiana, a luz faz listras na parede. Preciso de pouco espaço para viver — que seja pelo menos do tamanho de um útero.

                 (Imagem: Pintura espontânea da autora)

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