Janela, porta, prisão, palavra



Mario Benedetti


“Ter notícias suas é como abrir uma janela, mas então me dá uma vontade quase irreprimível de abrir mais janelas e, o que é mais grave, de abrir uma porta. (..,) Uma porta é muitas coisas. Quando está fechada, e sempre está, é a clausura, a proibição, o silêncio, a raiva. Se abrisse. (...) seria a recuperação da realidade, da gente querida, das ruas, dos sabores, dos cheiros, dos sons, das imagens e do tato de ser livre. Seria, por exemplo, a recuperação de você e de seus braços e de sua boca e de seu cabelo (...) para chegar às palavras filho, mulher, amigo, rua, cama, café, biblioteca, praça, estádio, praia, porto, telefone, é imprescindível transpor a palavra porta.”

(Trecho de Primavera num Espelho Partido. Alfaguara: Rio de Janeiro, 2018.)

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