Querido Fred
Luci Afonso Olhou bem a sua volta, para certificar-se de que não era seguida. Apesar do sol forte, vestia moletom com capuz e óculos escuros enormes, que comprara na Feira dos Importados. Viu-se refletida numa vitrine e concluiu que estava mesmo irreconhecível. Deu duas voltas no prédio antes de descer o lance de escadas para o subsolo mal iluminado. Eram quatro horas da tarde. Ninguém à vista. As poucas lojas pareciam vazias, inclusive a lojinha do canto, a que se destinava. Tinha cronometrado toda a operação, sem possibilidade de erro. Virou-se à esquerda e entrou. Uma jovem punk veio atendê-la com um sorriso de fazer inveja: — Pois não, senhora. Posso ajudá-la? Nas outras tentativas, tinha chegado até este ponto e recuado, com a desculpa de que se enganara de loja. Hoje, porém, tomou coragem e respondeu: — Sim, querida. — Acho que sei o que a senhora deseja. Me ac