Alice pegou o seio
Luci Afonso Eu brincava de luzes na sala, quando Dôra apareceu na porta da cozinha: — Alice pegou o seio! — ela disse, radiante. A segunda neta levara doze horas para nascer e, passados três dias, ainda não pegara o seio materno, que explodia em leite. A notícia me encheu de esperança. Eu brincava de luzes quando estava triste. Pegava duas ou três pulseirinhas coloridas e transparentes, colocava no braço esquerdo e o movimentava ao sol. De preferência, às dez da manhã, por causa da inclinação da luz. Me sentava perto da janela e observava o reflexo estendendo-se pela sala e criando um círculo ao meu redor. Sempre gostei de reflexos. Parecem carinhos. Além de brincar de luzes, nos dias mais difíceis — segunda, quarta, sexta e domingo — eu fazia uma festa de mentirinha. Ligava o rádio bem alto, tirava os chinelos e girava descalça pela casa. Parecia louca, mas estava só triste. A gatinha me concedia a dança a contragosto, e meu filho servia de parceiro relutante, mas gent