Luci Afonso Bom dia. Confesso que não esperava sua visita. Não acreditei quando me contaram que o senhor havia chegado. Por que eu? Por que agora? Por que para sempre? Não poderia esperar mais um pouco? Esforcei-me para acomodá-lo, mas no fundo eu me rebelava contra sua presença em minha vida. Claro que eu tinha ouvido falar do senhor, mas parecia algo tão remoto. Nunca pensei vê-lo de perto. De dentro. Ao lado. À frente. Não sei como dizer... O senhor não é bem-vindo. Perdoe a franqueza, mas sei que já ouviu isso antes. Eu queria que nunca tivesse me olhado, que nunca tivesse me tocado. Eu seguiria tranquila. Agora que veio, porém, é preciso recebê-lo bem. Arrumar o quarto, fazer a cama, espanar os móveis. Um hóspede será sempre um hóspede. É bom perguntar o que pretende, do que precisa, quanto tempo planeja ficar. Ou há alguma maneira de convencê-lo a ir embora? Desde que o senhor chegou, não durmo direito. Passeio pela varanda, conversando com a noite. Não ten