Monstrinho
Luci Afonso Nossa rua tem um retardado que vive numa cadeira de rodas. O nome dele é Geraldo, mas longe dos adultos nós o chamamos de Monstrinho. Fui eu que inventei o apelido, porque ele se parece muito com um monstro que tem no livro da escola. Geraldo é filho do Zedelino, dono do boteco na esquina com a avenida Getúlio Vargas. O lugar vive cheio, ora de pinguços jogando truco, ora de crianças encardidas comprando balinhas. Todo mundo diz que o Zedelino tem muito dinheiro guardado, mas ninguém tem certeza. Ele só usa roupas surradas e dirige uma Kombi caindo aos pedaços para transportar mercadorias. Eles moram nuns cômodos fedidos no segundo andar do boteco. Monstrinho passa o dia na janela, olhando o movimento. Só sai para ir ao médico na Santa Casa. Dizem que ele vai viver pouco, por causa do retardamento. Também, pra que viver muito desse jeito? Melhor morrer logo. Igual à mãe dele, que morreu no parto. Ele nos observa com atenção enquanto jogamos bola