Profissão Escritora
Luci Afonso Estou preenchendo o formulário de check-in no Rio Othon Palace. — Algum problema, senhora? — pergunta o recepcionista, ao notar o meu olhar perdido nas ondas do outro lado da avenida. — Não, tudo bem — disfarço, o sorriso cansado. Volto a atenção ao questionário. Falta responder ao item “ Profissão”, que tem sido causa de angústia desde que me aposentei. Funcionária pública? Fui por trinta anos, não sou mais. Taquígrafa? Ninguém sabe o que é. Analista Legislativo? Idem. Aposentada? Não é profissão, é estado de graça. Revisora? Cansei-me de consultar gramáticas e dicionários para corrigir erros alheios. Bastam os meus. Estudante? Soa ridículo na minha idade. Digitadora? Secretária? Tradutora? Professora? Começo a tremer, minha visão se turva, mas tomo coragem ao responder: escritora . Serei castigada pela minha audácia? Pela minha pretensão? E scritor tem um quê de sagrado, uma aura de mistério, um toque de glamour. É um ser não identificad