Pequena Grande Mãe
Luci Afonso
O nome “Isolda” tem
origem incerta. Na versão grega, significa “a que protege”. É também o nome de uma
princesa no poema épico “Tristão e Isolda”, inspirado numa lenda celta. Nome
forte, antigo, impõe respeito, igualzinho à dona.
Nos meus dois últimos
anos na Câmara, trabalhei ao lado de Isolda no Cefor – Centro de Treinamento. Foi
preciso coragem. Quando nervosa, ela é um perigo! Dava bronca em mim, no marido,
na empregada, no marceneiro, na moça do telemarketing, em quem cruzasse o seu
caminho. Mas a braveza passava logo, e o sorriso se abria. Trabalhava sem parar
e não gostava de ver ninguém desocupado. Era extremamente objetiva, rigorosa,
exigente, eficiente, superprodutiva. Enquanto eu fazia um texto, ela fazia
quatro, e começava imediatamente a próxima tarefa.
Quem a conhece sabe que
ela faz mil coisas ao mesmo tempo – escreve poesia, declama, canta no coral, faz
teatro, coordena grupos de dança circular, dá oficinas aos terceirizados da
Câmara, ensina jogos cooperativos, apresenta saraus, entrevista convidados num
programa de TV (do qual também é produtora), participa de eventos literários na
cidade e no país. Será que esqueci alguma coisa? Luta ferozmente pelo que
acredita. Graças a ela, o programa Canto das Letras, da TV Câmara, chegou neste
mês à 29ª edição, mostrando o talento de escritores e músicos brasilienses.
Nas horas vagas, Isolda cuida
da família, dos amigos, dos vizinhos, de pessoas carentes em geral, da casa, do
gato, do planeta. Cuidou de mim quando precisei. Sabem aquela luz que toda
noite atravessa o céu de Brasília e que muitos pensam ser um satélite? Não é um
satélite: é o amor de Isolda dando voltas e voltas no mundo sem se cansar; é a
Pequena Grande Mãe velando nosso sono.
Isolda não tem
fronteiras. (Aliás, o Médicos sem Fronteiras foi inspirado nela.) E agora, então,
que é imortal? Em 19 de agosto deste ano, Isolda Marinho tomou posse, como
escritora imortal, à Cadeira nº 40 da Academia de Letras do Brasil – Seção DF.
Seu patrono é Pablo Neruda. Ninguém mais segura a poeta alagoana.
O senso de humor e a
presença de espírito são conhecidos de todos os que frequentam os saraus. Sua
veia cômica e sua intensidade dramática contagiam qualquer plateia. Onde houver
um sarau, lá estará Isolda, declamando sua poesia ou a de outros poetas. Tudo
fica mais engraçado ou mais comovente na sua voz.
Isolda tem três grandes
amores: a vida, a vida e a vida. Não perde uma chance de ser feliz. Corre atrás
da alegria e a enlaça pela cintura. Juntas, elas dançam até a última música da
última festa. Se o corpo dói, ela toma um Dorflex. Se é a alma que dói, ela
toma um poema, de preferência com gosto de fruta. Mesmo que seja o cítrico doce
do Beijo de Tangerina, seu terceiro livro, concebido de sobras de lágrimas, resquícios
de placenta e estilhaços de retina.
Tenho certeza de que ao
se aposentar vai fazer milhões de coisas, enquanto eu faço uma ou duas. Só me
resta a inveja – branca, não, que essa não existe; inveja roxa de amora ou
vermelha de morango.
Isolda, só três:
Isolda Poeta.
Isolda Carinho.
Isolda Marinho.
(Ouçam o texto e a resposta de Isolda Marinho no Portal Cultura Alternativa, de Anand Rao.)
Comentários no Facebook:
Isolda Marinho Não canso de ler e reler este
belíssimo texto que Luci escreveu em minha homenagem. Muito emocionada e
agradecida, não sei bem se sou mesmo tudo isso. Sei que gosto de viver
intensamente e, de preferência, fazendo os outros felizes.
2 de
dezembro de 2014 às 14:29
Tarlei Martins Se a Luci escreveu, Isolda, merece
toda fé...
2 de
dezembro de 2014 às 15:12
Maria Amélia Elói Foi lindo, Luci Afonso. Fiquei
maravilhada com a homenagem.
2 de
dezembro de 2014 às 15:20
Cinthia Kriemler Lindo texto. Como quem o inspirou. E
como quem o escreveu. Emoção pura. Merecido de verdade!
2 de
dezembro de 2014 às 15:32
Maria Amélia Costa Costa Muito lindo Luci Afonso! Parabéns às
duas.
2 de
dezembro de 2014 às 15:57
Cristiane Bernardes foi lindo mesmo! adorei! A Isolda
merece!
2 de
dezembro de 2014 às 18:36
Deliane Leite bela homenagem
2 de
dezembro de 2014 às 19:02
Ádyla Maciel Lindo!
2 de
dezembro de 2014 às 19:09
Raquel Melo É tudo verdade, Luci Afonso.! Isolda
Marinho é essa riqueza de gente! Linda homenagem!
2 de
dezembro de 2014 às 19:44
Angela Menezes Delgado Eu que nem conheço a Isolda, fiquei
com vontade de. Parabéns, Lucy pelo seu belíssimo texto!
3 de
dezembro de 2014 às 09:00
Nádima Nascimento Linda linda queridas, homenagem mais
do que procedente feita com a exatidão delicada da amiga escritora!
3 de
dezembro de 2014 às 20:16
Comentários
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