Ser escritor
Cristovão Tezza Um amigo me disse que acha o maior barato como sou definido na coluna: “Fulano é escritor”. Por incrível que pareça, essa profissão exerce uma misteriosa atração nas pessoas. Há algo de sobrenatural na condição de escritor, um “atestado de diferença” que põe o leitor imediatamente em guarda, ou com uma admiração inexplicável, ou com uma justificada desconfiança. O escritor, como o espião, exerce uma atividade secreta. Reconhecemos de imediato os advogados, os engenheiros, os enfermeiros, os garis, os médicos (e até mesmo os deputados e vereadores, por um deslocamento de sentido, já que eles apenas cumprem funções por um período de tempo) como profissionais regulamentados, definidos claramente por um conjunto de regras que vão desde o aprendizado formal, chancelado pelo Estado, até a entrega de um diploma que nos autoriza a ser o que somos Mas quem nos “autoriza” a ser escritores? Começa por aí. Minha profissão é uma fraude, ou, dizendo de outro modo,