Droga de bom!
Luci Afonso
— Exercício físico é
muito bom — diz a Dra. Gladys, depois de conferir meus recentes exames de
laboratório. Os níveis de colesterol estão desregulados: o bom está baixo, o
ruim está alto e o total está 50 pontos acima do normal. Além disso, a medição da
cintura revela que estou na faixa de risco de ataque cardíaco fulminante.
— Experimente caminhar
— ela sugere, como vem fazendo há quinze anos.
Devido à prática
regular de esportes, a Dra. Gladys tem a silhueta enxuta, a pele fresca,
excelente disposição e flexibilidade invejável — ela se abaixa para pegar remédios
sem nenhum estalo de ossos e se ergue com a mesma agilidade. (Quando me agacho por
qualquer motivo, as juntas estalam em sinfonia e travam em seguida,
obrigando-me a pedir ajuda para levantar.)
Preciso perder, no
mínimo, quinze quilos. Chega de pizza napolitana grande e guaraná de dois
litros! Adeus, Big Tasty e torta de maçã do McDonalds! Adeus, quatro unidades
de banana caramelada no China in Box! Bem-vindas, folhas de alface crespa do
Verdurão! Bem-vindo, pão integral doze grãos 120 calorias!
Chega de sedentarismo! Não
posso adiar mais: na sexta-feira de sol, dirijo-me ao Parque Olhos Dágua para a
primeira caminhada do resto da minha vida.
— Quão motivada você
está? — pergunta meu filho.
— Motivadíssima!
— Hum...
Caminho duas
superquadras até o parque e escolho o percurso à direita. Logo de início, tento
seguir o ritmo vigoroso das pessoas que passam conversando, a respiração
tranquila como se estivessem dormindo. Balanço os braços com ímpeto, imitando
os atletas que parecem experientes.
Muita gente me observa.
Talvez por eu ser estranha no local, talvez pelas bermudas pregueadas, que
parecem uma saia balonê, ou pelo tênis velho, a sola do pé esquerdo
desmilinguida. Encaro todo mundo com firmeza e com um leve sorriso, como uma
frequentadora assídua.
Tudo vai bem até que
começam as subidas. Venço a primeira, a segunda, a terceira, sempre
mentalizando a queima do colesterol. Na quarta, as pernas já não obedecem, e
começo a cambalear. Paro, a camiseta encharcada de suor, a respiração ofegante,
a boca seca, e finjo que estou me alongando.
— Ânimo, filha! — diz o
senhor em ótima forma, cabelos em neve.
— Coragem, tia! — incentiva
o jovem que rebola a passos largos no short
apertadinho.
— Quer que a gente
chame o socorrista, vó ? — oferecem duas simpáticas adolescentes, que flutuam leves
como garças.
Prefiro ignorar as
manifestações de solidariedade esportiva. Respiro fundo, volto num ritmo mais
lento, esgueiro-me até o portão e me arrasto até em casa.
— Já?
— Quanto tempo eu andei?
— Trinta minutos.
Impossível! Pareceram duas
horas.
— Quão cansada você
está?
— Cansadíssima!
— Bem, é que, na
verdade, você ficou de completar com a esteira.
— Depois eu faço.
— E o pilates?
— Amanhã.
— Hum...
Desabo na cama, sem
coragem de tomar banho. Penso com desespero na próxima caminhada. Antes de
desmaiar pelo cansaço, tento me lembrar das sábias palavras da médica: exercício
físico é muito bom, exercício físico é muito bom, exercício físico é...!
Amiga, coragem! E parabéns pelo primeiro dia. Continue firme, tem todo o meu incentivo!
ResponderExcluirBeijo.