Fodopa



Luci Afonso


— E aí, belezinha? Joinha? Tudo em paz? - Dois beijinhos, o sorriso franco, o aperto de mão.
—Bem-vinda, querida! - A risada solta, a voz forte, o abraço sincero.
— Saudações poéticas! - O olhar amoroso, o passo firme, a onda de calor.
— Oi, véi! - O frescor, o futuro, a juventude.

Assim sou recebida no portal intergalático a que cheguei depois de longa viagem.

— É dia de batismo! - Sou levada ao jardim e batizada com a água fresca que esguicha da mangueira, antes de começar o trabalho do dia.

Trabalho, não: paradinha.

As paradinhas são resolvidas uma a uma, com a ajuda de todo o grupo. Algumas são estranhas — estranhas, não, bizarras: onde colocar as enormes cabeças de papel que servirão como vírus para a nova campanha de divulgação? As figuras parecem não caber em nenhum lugar da Casa.

— É fodopa! - todos concordam, enquanto se sentam ao redor da mesa para o brainstorming:
— Eu pensei num móbile gigantesco, absolutamente impregnante.
— E se a gente... tipo... pendurasse nas árvores?
— Vamos usar espelhos, saca, com música ao fundo!
— Poderia ter um machado bem grande, assim... abrindo as cabeças...
— Que tal uma dança das cadeiras, para desestressar?

A última idéia é acolhida por unanimidade.
Todos se posicionam e giram em volta das cadeiras até que a música pare. Uma rodada, duas, três, e sou a vencedora! Será que me deixaram ganhar? Não importa. Estou empolgada por ter participado da primeira atividade lúdica com minha nova família fodopiana.

Sinto-me belezinha, joinha, em paz. Fora do padrão, e finalmente em casa.

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