Terri primeiro, João Paulo Segundo



Luci Afonso


Terri Schiavo morreu duas vezes. Jovem e bonita, parou de comer para perder peso e talvez agradar ao marido Michael — na época o casal estaria em processo de separação. A bulimia trouxe a parada cardíaca e, em conseqüência, o estado vegetativo. O marido decidiu que ela não queria mais viver e, com a autorização da Justiça, desligou os aparelhos que a alimentavam. Os pais de Terri, que adivinhavam um sorriso onde outros viam mero reflexo, lutaram pela filha amada, que tinham a esperança de um dia recobrar a consciência. Foram apoiados por milhares de pessoas no mundo inteiro, mas venceu Michael Schiavo, que, não contente em matar a esposa de fome e de sede, fez questão de reduzi-la a cinzas, negando à família o sagrado direito ao último adeus.

João Paulo II sobreviveu a atentado, dor e velhice, e ninguém cogitou de apressar sua partida. No último gesto, sem palavras, ficou evidente o grande sofrimento que enfrentava. Foi enterrado com véu de seda e anel de bispo, em perfumado caixão de cipreste, forrado de veludo vermelho.

Milhões de pessoas rezaram por Terri Schiavo e João Paulo II. Os dois tiveram o mesmo destino — que também é o nosso —, mas por caminhos muito diferentes. Terri não teve chance de lutar pela vida; João Paulo lutou por ela enquanto pôde, talvez muito além de suas forças, em nome do amor à humanidade. O mundo se uniu no lamento pela morte do Papa, aclamado santo pela multidão.

Santo é todo aquele que enfrenta a vida com bravura e dignidade, e que dela merece partir com véu de seda e anel de bispo. Santa Terri, Santo João Paulo, santo ser humano. Vão com Deus. Amém.

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