Que povo é esse?
Luci Afonso
O cenário cultural brasiliense está agitadíssimo neste início de setembro.
Na terça, o Sarau da Tribo das Artes abre a Bienal Internacional de Poesia no SESC da 504 Sul. Sou uma das primeiras a chegar e lá encontro Cacá e outros membros do grupo, distribuindo material e amarrando cordéis. Quanta adrenalina! Parecem formigas dedicadas a um objetivo comum e que não param um minuto até atingi-lo. Isso não apenas antes do espetáculo, mas também durante e depois.
Começado o show, eles transitam freneticamente. A cada minuto alguém entra ou sai do auditório e Cacá se apressa em fechar a cortina. Se o sarau durar três horas, o poeta-organizador-apresentador se levantará, pelo menos, 180 vezes.
Enquanto assistimos a uma poemação, um vulto sai dos bastidores e chuta o violão encostado num banquinho. Poder-se-ia imaginar uma performance ao estilo de Jimmi Hendrix, mas é apenas o músico Máximo Mansur, que, por algum motivo urgente, precisa atravessar o palco escuro e tropeça.
Atrás de mim, uma voz feminina conhecida se eleva para entoar palavras perdidas. Outras declamadoras juntam-se a Anabe numa espécie de ritual xamânico, que nos emociona e hipnotiza.
Ao final, troco meu livro pelo de uma poetisa curitibana que está lançando seu trabalho em Brasília. Provo mais alguns salgadinhos, me despeço e chamo o táxi. Fico sozinha na porta do SESC — parece que sou a última a sair. Parece... Um grupo de animados tribalistas deixa o edifício e pára na esquina, confabulando. Depois, dirigem-se aos carros, talvez, para uma esticada ao Beirute ou um recital relâmpago em algum ponto da cidade.
Essa Tribo é o bicho.
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