Cartas a um jovem poeta (III)




Rainer Maria Rilke


De passagem por Worpswede, perto de Bremen, 16 de julho de 1903.

...bem sinto que nenhum homem pode responder às perguntas e aos sentimentos que têm vida própria no âmago de seu ser. Creio, contudo, que o senhor não deixará de encontrar uma solução, se se agarrar a coisas que se assemelham a si. Se se agarrar à natureza, ao que ela tem de simples, à miudeza que quase ninguém vê e que tão inesperadamente se pode tornar grande e incomensurável; se possuir este amor ao insignificante, então tudo se lhe há de tornar fácil, harmonioso, e por assim dizer, reconciliador.

O senhor é tão moço, tão aquém de todo começar que lhe rogo ter paciência com tudo o que há para resolver em seu coração. Viva por enquanto as perguntas. Quiçá carregue em si a possibilidade de criar e moldar, como uma maneira de ser particularmente feliz e pura. Não se deixe enganar pela superfície: nas profundidades tudo se torna lei.

Tudo isto que talvez um dia seja possível a muitos, o solitário pode prepará-lo desde já, e construí-lo com suas mãos, que erram menos. Por isso, caro senhor, ame a sua solidão. Diz que os que sente próximos estão longe. Isto mostra que começa a fazer-se espaço em redor de si. Se o próximo lhe parece longe, os seus longes alcançam as estrelas. A sua solidão há de dar-lhe, mesmo entre condições muito hostis, amparo e lar, e partindo dela encontrará todos os caminhos.

Todos os seus desejos estão prontos a acompanhá-lo e minha confiança está consigo.

Seu


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