Comentário sobre "Velhota, eu?"



Miliane Benício


Minha cara Luci,


Tive o privilégio de vê-la pela primeira vez no lançamento do seu livro “Velhota, eu?” na Feira de Livro de Brasília, no ano passado. De fato, quando cheguei e mostrei-me tão à vontade – mais isso só aparentemente, pois me encontrava tão confortável como um pé tamanho 42 calçando meia soquete, num sapato 38 – na sua e na presença da minha mestre e amiga Maria Alexandra, o que a visão óptica me projetou foi um corpo docemente feminino. A projeção em cores de uma mulher meiga e ingenuamente poética.

Bom, essa foi uma primeira apresentação. Digo isso por que acho que na medida em que convivemos com as pessoas, a cada experiência compartilhada, somos reapresentados. Reapresentados a novos moradores habitantes da mesma casa espiritual e, todos, unidades de uma mesma alma, diversamente complementares de um todo integral e maravilhosamente fascinante.

Então, aconteceu. Fui uma segunda vez apresentada. O diálogo começou de modo inteiramente diferente. Não tinha mais a aparência ou a fragrância do invólucro perfeitamente moldado por tecidos e músculos do chamado sexo frágil que me estendera a mão dizendo, boa noite! com um sorriso entrevido entre finos lábios e um nariz nos moldes da realeza britânica.

A luz óptica da pele alva que transparecia a alma de outrora, agora refletia para minha percepção neuropsíquica, expressa pelas minhas capacidades lingüística e metalingüística, um corpo almagético outro. Mulher forte, sagaz, armada com a espada da ironia fina e da inteligência crítica, equivocadamente entendida como masculina. De onde vinha?

Acho que já podes imaginar! Dizia-me olá a cada crônica que eu lia. Parecera-me estranha a que já me era meio familiar. Por causa dos muitos traços regularmente brasileiros, sabe?! Daquela que conheci no lançamento lá Feira. Mesmo tendo adornos sofisticados de realeza. E essa que conhecia, linha após linha, por vezes me surpreendia: que língua afiada dessa dona, cuja fala nega por completo a imagem sutil da poesia ingênua da sua presença silenciosa. Silenciosa! Pois se abre a boca... é espada a retinlintar trim! Tilim! Tape! Tim! Tilim Na batalha com as palavras. Que coragem tem essa guerreira do dizer! Expõe-se, se opondo.

Foi assim: fui surpreendida, fui tocada, compreendida, irritada – sabe, às vezes certos encontros nos levam a certos desencontros desilusórios interiormente, Freud explica.

A classifico, por isso, como fazedora de arte, pois seus ditos tocam e, de diversos modos!

Surpreendi-me, me diverti, me encontrei, me recuei, me recolhi, me emocionei, me irritei. Enfim, vivi enquanto te li.

Apesar da grande distância temporal real, passível de contagem no nosso sistema de numeração, que transcorreu do dia 06 de outubro de 2007, até o atual tic-tac do meu relógio que marca 23:16h, do dia 07 de março de 2008, creio que não seja deselegante fazer uso do meu tempo-emocional para lhe dizer do meu prazer em conhecê-la e tê-la comigo em meus passeios pela capital do Estado de Goiás. Lá tu também tiveste uma primeira apresentação: e com sucesso! Mérito, principalmente, do Rouxinol, da Pombinha e da Cotovia.


Um grande abraço e continue aguçando o nosso olhar com o teu.

Foi mesmo um grande prazer.





Impressões


Brincos,
De pérolas?
Não sei!
Princesa,
Na rua,
E não no
castelo?
Pele alva
Ou da cor da
negrura?
Sim, dir-te-
ei.
Que te
admiras!?
Realeza hoje
Mora na
elegância
Do simples
Na
sagacidade,
Do olhar que vê e diz os
fatos,
Na pele alva
ironicamente
corada
Expressa nos
textos de
Luci.
De brincos
de pérolas?
Não!
Pérolas de
um brinco
Que vi.
Crônicas que
formam
Uma das
minhas
Conhecidas
Luci.



Miliane Benício é educadora e aprecia a arte da poesia.
(milianenogueira@yahoo.com.br)

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