Promessa


No dia 7 de julho de 2007, após consultar o horóscopo (Capricórnio: Fase propícia para o resgate de emoções contidas. Viagens potencializadas.) e a numerologia (7: número sagrado, simboliza a totalidade, a plenitude, a perfeição.), tomei coragem e adquiri duas passagens de ônibus para minha cidade natal, que eu não visitava há trinta anos. Parte da família já fora de carro e nos aguardava na casa da minha tia para sete dias de férias.

Na rodoferroviária suja, comprei de um suposto surdo-mudo, por 7 reais, uma medalhinha de São Cristóvão para nos proteger na viagem. Segurei-a durante todo o trajeto, enquanto meu filho dormia tranqüilo na poltrona ao lado. Funcionou: chegamos, ao nascer do dia, a salvo de acidentes ou roubos, e fomos recebidos na rodoviária pequena e limpa.

Um breve descanso, um farto café da manhã na mesa da cozinha e dei início à visita ao passado que eu tanto adiara, com medo de confrontar lembranças tão antigas. Sob a escolta do bravo e leal exército reunido na rara confluência planetária — éramos sete —, aventurei-me nos espaços físicos e emocionais que há muito ocupavam um canto esquecido da memória.

Deparei-me, logo na primeira esquina, com a menina quieta, de olhos grandes, cabelo comprido preso com laço de fita, e que comia o mundo como doce de mamão verde. Com ela revi amores de infância, refiz trajetos que me doíam, redesenhei vultos e reescrevi conversas perdidas. Aparei-lhe uma lágrima no rosto miúdo. Com as mãos pequeninas, ela tocou meus lábios e abriu meu sorriso.

Brincamos madrugada adentro, quando todos dormiam. Relembramos cantigas de roda, jogamos cinco marias no chão fresco da sala, ouvimos discos na radiolinha vermelha, presente do nosso pai. Mostrou-me as bonecas, o piano de brinquedo, os primeiros livros. Mostrei-lhe dois filhos: o menino e o livro. Ela os acariciou por longo tempo e me disse ao ouvido: — Somos felizes!

— Quantos anos você tem? - quis perguntar-lhe no último dia, mas não era preciso.

Sete: número sagrado, simboliza a totalidade, a plenitude, a perfeição. São sete os planetas, as fases da lua, as cores do arco-íris. São sete as notas musicais e as artes. Há sete pecados capitais. Foram mapeadas, até agora, sete virtudes humanas. Durante sete dias senti-me inteira, plena, quase perfeita.

Dizem os especialistas em emoções humanas que nunca devemos retornar aos lugares onde fomos felizes, sob pena de sofrermos. Ao contrário, quero visitá-los sempre que possível, para não perder de vista quem sou.

Na chegada a Brasília, encontro debaixo da porta um papel florido com letra de criança: “Promete voltar logo?” Respondo no mesmo papel, com letra adulta: “Prometo”.

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