Por quem os jingles dobram




Eneida Coaracy








Queridos amigos (do batente do dia-dia, não tão distantes, distanciados pelas circunstâncias da vida, de além-mares, daqui e de acolá),

Cá estamos novamente encerrando este ciclo temporal chamado ANO, criado pelo homem para ajudá-lo a demarcar etapas, ciclos, movimentos, passagens. Sinos rebimbam, jingles ecoam repetidamente na mídia, urgindo todos a comprarem, presentearem-se, confraternizarem-se. O Natal está chegando! Um Novo Ano anuncia vida nova, promessas de realizações pessoais e de sonhos, mudanças e viagens. Tudo é mágico e possível. O verdadeiro sentido do Natal, perdendo-se nesta ruidosa confraternização consumista inventada pelo homem.

Entretanto, torna-se praticamente impossível escapar do redemoinho natalino, de cuja força magnética ninguém parece conseguir escapar, inclusive eu própria, que aqui estou tentando me conectar aos meus amigos queridos e não me deixar fragmentar por esta ventania salpicada de falsas estrelinhas douradas — que cegam de tanto que cintilam, que tanto dançam ao vento que pinicam nossas peles curtidas e amaciadas pela poeira da vida. Nesta hora, não me agradam estrelinhas dançantes, nem excursões a shoppings lotados, nem repetidas confraternizações, uma após a outra, tudo no mesmo mês, quando na realidade, gostaria de me confraternizar com todos que me são queridos em momentos oportunos a cada grupo de amigos ao longo do ano que sempre avança nossas vidas adentro. Mas sei que isto nem sempre é possível, pois o tempo é indomável, segue sempre seu galope; nós, agarrados a nossas selas precárias, segurando-nos como melhor podemos, tentando manter o prumo.

Mas, que fazer? Estamos próximos ao Natal, momento em que somos cercados de uma enorme euforia, muita (falsa?) alegria e (alguma) esperança. Esperança que algo mude, talvez até o próprio sentido do Natal. Que algo mágico aconteça, que livre o homem do compromisso com o sentido essencialmente consumista que esta data passou a ter; que face à pobreza desconcertante que prevalece nas sociedades modernas, é desatualizado, hipnótico e propositalmente confuso. Comemoramos uma data que celebra o nascimento de um grande Homem, um Deus, que por aqui esteve há muito tempo atrás, que pregava a simplicidade e a harmonia entre os homens, a singeleza e a doçura. Palavras que foram reinventadas e passaram a significar sofisticação, desarmonia, complexidade e amargura. Tudo ao contrário. O que celebramos, então?

Eu, particularmente, nesta minha pequena comunicação natalina, celebro a amizade com todos vocês, o carinho que recebi ao longo deste ano, as alegrias compartilhadas, as oportunidades que tive de crescer como pessoa graças à nossa amizade e, principalmente, a prazerosa oportunidade que todos me deram, por serem meus amigos, de me sentir viva por ter um grupo de amigos com quem compartilho, de diversas formas, a Vida.

Assim, celebro a Vida, a Amizade e o Carinho entre nós!

Beijos,
Eneida








Eneida Coaracy é professora de inglês, poetisa premiada no Prêmio SESC de Poesia e cronista.







Comentários

  1. Eneida, prazer em conhecê-la!
    Muito bom o seu texto e parabéns pelo prêmio, que, pela amostra que Lucy nos ofereceu, deve ter sido bem merecido!
    O Natal já passou, mas o novo ciclo, como você disse, está chegando. Espero que ele lhe traga tudo o que você celebrou, há pouco.
    Obrigada, Lucy ,por esse presente, que se somou à segunda edição do excelente "Velhota, eu?"

    ResponderExcluir

Postar um comentário