Enamoramento 2

Maria Amélia Costa


Coisa estranha essa de querer o outro por perto, acercando-nos com paparicos e cuidados e a um passo poder tocar o seu braço e mergulhar pela abertura côncava entre o tecido e a pele em busca de um músculo contornado pelos movimentos do homem.

Num instante se sentir em um tamanho que cabe nos poros que moldam o corpo e nesse mesmo instante deslizar inundando-se em abismos de sensações perpendiculares, doces, cegas. Confundir-se nele, movida pela inocência angelical que conduz a luz por olhos moventes numa posição que, abaixo, é de entrega confortável e dolente.

Ele, sempre crescente, contorna o espaço e o tempo, alonga a paisagem.

Os dedos dela, cúmplices no gesto, tateiam imprimindo marcas digitais reunindo, ali, a consciência do mundo. Depender dele. Ser, apenas nele. Sentada ao lado, não precisa de nada, apenas ficar ali e se deixar... Como um corpo sem alma, desprovido de essência e de sentido.
Se deixar. Sem medo, sem angústia, sem pressa, sem frio.

Um não ser.

Comentários

  1. Adorei o texto. Fez-me mergulhar novamente em sensações que repousavam no me ser. Desejei não ser. Apenas isso... e ser levada com delicadeza pelos meus enamoramentos.
    Eneida Coaracy

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