Anjo
Lúcio se joga na enxurrada e agita os braços, rindo alto. Barquinhos de papel não lhe bastam: ele se enlameia da cabeça aos pés, mesmo que a travessura lhe custe o açoite da vara de marmelo.
Lúcio se joga na vida e luta, respirando fundo. Os braços de menino alimentam pai, mãe e irmãos pequenos. Entre os caixotes de milho, faz palhacinhos de sabugo que divertem outras crianças pobres.
Lúcio se joga na chuva e recolhe o tio bêbado das ruas, abrigando-o num quarto de pensão com os últimos trocados que ganhou na feira.
Lúcio se joga no amor e soluça no abraço terno que finalmente o acolhe. Sacia-se de água fresca e semeia os filhos que lhe testemunharão a vitória.
É hora de percorrer as antigas calçadas de pedra em busca da minha história. Não tenho mais medo: o sorriso inabalável de Lúcio clareia meus passos noite adentro.
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