Tudo bem contigo?



— Tudo bem contigo?
Era a pergunta mais íntima que ouvira de um homem nos últimos meses. A voz tinha um certo calor, uma dose de ternura. O que ele queria dizer? Que se importava com ela? Que vinha pensando nela desde a última vez em que se viram? Usava a mesma entonação com todo cliente, ou para ela reservara uma especial? Mal pôde esperar o dia seguinte, quando se encontrariam no escritório para tratar da encomenda.
Resolveu usar a saia florida, que valorizava as pernas e a deixava mais jovial. Além disso, ele notaria o quanto era feminina. No último encontro, o terninho cinza caía muito bem, mas dava uma aparência sóbria. Será que ele gostava de mulheres maduras?
Escolheu uma blusa decotada, que realçava os seios volumosos, um dos poucos trunfos que lhe restavam (o outro eram os olhos verdes, que ela pintou com lápis da mesma cor). Tirou da caixa o perfume francês e enfeitou-se com argolas enormes.
Chegando ao trabalho, dirigiu-se primeiro ao toalete para conferir o visual. Deu de cara com uma adolescente linda, de uns 17 anos, usando top e saia justa, e que se admirava no espelho.
— A senhora me empresta o pente? - Esperou que a moça alisasse os longos cabelos loiros e se afastou rapidamente, seguindo o mandamento sagrado: jamais dividir o espelho com uma mulher mais jovem, principalmente se a diferença de idade somar três décadas.
Ele a esperava na sala.
— Tudo bem contigo? - Ela sorriu e caminhou na direção dele antes de notar o vulto à porta. A adolescente do espelho entrou, sentou-se junto ao namorado e disse, gentil:
— A senhora é bonita como a minha mãe!
Agradeceu o elogio e, enquanto tentava se lembrar do motivo do encontro, pediu à copeira um café bem forte e dois refrigerantes.

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