Equinócio








Manhã de sábado — a primeira cigarra.
Cristina passeia, distraída, na feirinha de artesanato. Está de mãos dadas com o novo namorado, que veio de longe para vê-la. Passear de mãos dadas é uma experiência quase esquecida. Acontece na Asa Norte de Brasília, mas poderia ser numa rua em Paris, numa praça em Manhattan ou num bosque cheio de sol.
Noite de sábado — as primeiras gotas de chuva.
Victor Hugo faz aniversário. Desejava viver 115 anos, mas anda triste. Ressuscita uma planta quase morta, leva casacos para meninos que dormem no frio do parque, procura algum calor à beira-mar. Tem planos de percorrer sozinho a Estrada Real de Minas. No caminho ao passado, espera reencontrar a si mesmo, que perdeu de vista há algum tempo.
Manhã de domingo — a primeira flor do ipê branco.
Loyse pegou catapora e ficou dez dias de cama. Durante a febre, mergulhou com Barbies-sereias e cavalgou pôneis mágicos. Sonhou todas as noites com as coleguinhas da escola. Amanhã calçará sapatos novos para ensaiar a dança das flores.
Noite de domingo.
Meu filho dorme em paz. Na penumbra do quarto, ausculto a esperança de tantos corações próximos ao meu e recolho, agradecida, as dádivas da nova estação.

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