Rubem Fonseca Em matéria de leitura eu sou onívoro, ou polífago, se preferem. Leio tudo o que aparece na minha frente. Mas as duas leituras preferidas por mim são, respectivamente, poesia e bula de remédio. Guardo, ou guardava todas as bulas dos remédios que eu consumia (mas não sou hipocondríaco), e fiquei muito desgostoso quando a caixa cheia delas sumiu. Até hoje não sei se alguém a furtou (havia bulas não apenas em português, mas em inglês, francês, espanhol e alemão; muitas vezes eu comprava um remédio só para ter uma bula, mesmo se fosse em uma língua com a qual eu estivesse pouco familiarizado) ou se foi uma vingança soez de algum inimigo, ou excesso de zelo de alguma faxineira ao limpar o chamado Quarto dos Macacos, um cômodo que tenho na minha casa. O que aconteceu, o sumiço da caixa de bulas, é um mistério. Ela não possuía qualquer valor de mercado, e eu não tenho inimigos, ainda mais tão terríveis a ponto de fazer um agravo dessa natureza, roubar um bem que me era